Como analisar o Ciclo de Vida (ACV) de produtos lácteos

Ciclo de vida de produtos lácteos

Tanto a fabricação quanto a utilização de produtos ou desenvolvimento de serviços gera algum impacto ambiental e socioeconômico. Muitas vezes o consumidor não vê o tanto de processos que acontecem para que aquele alimento chegue até a prateleira do supermercado. Mas toda indústria precisa ter consciência dos danos que pode gerar ao meio ambiente e pensar em maneiras de reduzir os prejuízos.

Para isso, é preciso que os gestores façam uma Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de seus produtos. Em geral, utilizamos uma técnica conhecida como “do berço ao túmulo”, que significa que devemos pensar em todos os processos envolvidos, desde a fabricação do produto até seu descarte da embalagem.

Nesse ciclo de vida, podemos pensar nas etapas de extração da matéria prima, produção, transporte, consumo e destino final. Em alguns casos, é possível se falar ainda de reciclagem, reuso ou reaproveitamento.

Hoje sabemos que o impacto ambiental vai muito além da emissão de gás carbônico (CO2), mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa e desmatamento. A geração de resíduos pelas indústrias pode poluir o solo e afluentes, levando à inutilização do recurso e à perda da biodiversidade. Existe ainda a poluição sonora provocada pelas máquinas, a poluição do ar, pelo transporte da matéria-prima e do produto, o uso de energia não renovável, entre outros impactos.

Nesse artigo vamos te explicar como é feita a AVC, qual sua importância e como realizar uma avaliação voltada para a produção de laticínios.

Como é feita a Avaliação do Ciclo de Vida

A metodologia da ACV é quantitativa, ou seja, a numeração irá determinar em qual categoria de impacto o produto se encaixa. Com esses dados, é possível comparar com produtos ou linhas de produção semelhantes a fim de escolher a melhor alternativa. Os requisitos e as diretrizes da avaliação são determinados pelas normas ISO 14040 e envolvem quatro etapas:

  1. Definição dos Objetivos e Escopo: determinação do objeto de estudo de maneira temporal e geográfica;
  2. Análise de Inventários: compilação e quantificação das entradas e saídas durante o ciclo de vida do produto;
  3. Avaliação dos Impactos: compreensão e avaliação dos impactos com base nos dados coletados;
  4. Interpretação: avaliação dos resultados, conclusão do estudo e recomendações.

O mais importante na avaliação do ciclo de vida é a possibilidade de identificar pontos críticos e buscar soluções para reduzir os danos ambientais. Além disso, a avaliação proporciona uma base de informações úteis para se pensar a redução dos custos, a otimização do tempo e o aumento da produtividade de maneira sustentável.

Por outro lado, esse processo também é importante para construir uma imagem mais forte da marca. A própria equipe de marketing pode usar esse conhecimento para mostrar aos consumidores como a empresa tem consciência de sua responsabilidade sócio-ambiental e cumpre com seu papel de preservar os recursos naturais e a comunidade local. Desta forma, o “rótulo ecológico” acaba se tornando também uma vantagem competitiva.

Qual a importância da AVC na prática

A indústria de alimentos está entre as recordistas no gasto de água e geração de resíduos e efluentes. Elas também envolvem o plantio da matéria-prima ou a criação de animais e extração de produtos derivados, como a carne, o leite e os ovos. Imagine então que diariamente são fabricados produtos alimentícios em grande escala, a fim de reduzir os custos e aumentar os lucros pela quantidade.

São toneladas de alimentos que são selecionados, uma parte descartada ou reaproveitada. Esses ingredientes passam por uma série de tratamentos que envolvem maquinários e manipulação de substâncias químicas. Depois são transportados via caminhão pelas estradas brasileiras ou de navio para o exterior, entre outros meios.

Há milhares de empresas competindo em diferentes setores do ramo de alimentos e uma quantidade imensa de produtos que nem chegam a ser consumidos, indo direto para o descarte após o vencimento, pois não houve interesse de compra. Fora o desperdício no momento da produção por falhas de gestão de qualidade.

Mas para além das perdas, há também o descarte das embalagens dos produtos vendidos. Para onde eles vão? Qual seu tempo de degradação na natureza? São embalagens que podem ser reaproveitadas, reutilizadas ou recicladas? Existem campanhas de  incentivo ou ações que levam os consumidores e as empresas a desenvolverem medidas mais sustentáveis?

Todo o processo gera impacto ao meio ambiente e as comunidades que vivem no entorno das indústrias e produtores de matéria-prima. É responsabilidade dos gestores pensarem nas consequências de sua produção ou serviço, buscar soluções corretivas e preventivas e qualificar seus colaboradores para que possam adotar processos mais sustentáveis.

Como avaliar o ciclo de vida de produtos lácteos

A avaliação do ciclo de vida de produtos derivados do leite leva primeiro em consideração a criação dos animais. Em produções pequenas, o leite pode vir da própria propriedade, mas quando se trata de indústrias, o fornecimento pode vir de diferentes fazendas e dezenas, centenas ou milhares de animais.

Essas vacas e cabras, por exemplo, são alimentadas com soja e outros grãos que necessitam de um espaço para plantio. Elas também são ordenhadas, o leite é armazenado, passa por tratamento de pasteurização e outros processos até que seus derivados sejam fabricados. Depois de pronto, o produto é levado aos pontos de venda e consumidos pelos compradores.

Nesse processo, considerando o “berço” do seu produto, é necessário avaliar:  Como esses animais são alimentados? Qual o espaço necessário para produzir seu alimento e como é o processo? Como o leite é armazenado e tratado?

Quanto de água é gasto para a produção do leite e seus derivados? Os equipamentos favorecem a sustentabilidade e passam por manutenção regular para evitar a perda e o desperdício? Qual o volume de poluentes, resíduos e efluentes gerados? Qual sua destinação e como são tratados? A empresa possui uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)?

Depois que o produto está pronto, em qual tipo de embalagem é armazenado? Como é feito o transporte até os pontos de venda? Qual o meio de transporte escolhido e a distância do percurso? Os veículos passam por revisão regular, gastam muito combustível e emitem grandes quantidades de CO2?

Ao ser vendido para os consumidores finais, como é feito o consumo? O que acontece com a embalagem após o consumo? Ela é biodegradável ou retornável, pode ser reutilizada ou reciclada? Ou ela é descartada sem qualquer processo de tratamento que acelere sua decomposição? Chegamos então ao “túmulo”.

Quando temos essas e outras respostas, podemos analisar qual o impacto que nosso produto gera sobre o meio ambiente. A partir do resultado, é possível avaliar, então, de que forma podemos reduzir os danos ambientais e socioeconômicos.

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